É na freguesia da Relva, no concelho de Ponta Delgada da ilha de São Miguel que podemos recuar no tempo e vivenciar os modos de vida dos nossos antepassados.
Na Quinta do Agricultor, a Sra. Gorete Massa e o Sr. Eugénio abrem-nos as portas para uma verdadeira experiência açoriana, dando a conhecer de uma forma autêntica aos seus visitantes a maneira como os antepassados viviam em São Miguel.
A visita tem início junto ao parque de estacionamento do espaço. A quinta possui 4 hectares de terreno e tudo que lá se encontra plantado tem perto de 4 anos de existência, sendo que a primeira árvore foi plantada em novembro de 2017.
O Sr. Eugénio encarrega-se de agrupar as pessoas e também de ser o guia desta fantástica experiência. Até chegarmos à casa da Quinta do Agricultor, a visita estende-se ao longo da alameda de acesso, alameda essa onde estão plantadas, predominantemente, carvalhos e liquidâmbares, mas também várias espécies de plantas, flores e frutos.
À maneira que vamos caminhando pela alameda, o Sr. Eugénio vai contanto alguns costumes de vida de antigamente, além de que vai explicando as alturas do ano em que se semeiam algumas espécies, as suas propriedades, benefícios e até mesmo a sua história. A alameda apresenta várias entradas laterais, tanto do lado esquerdo, como do lado direito e os visitantes são convidados a entrar nessas entradas onde estão semeadas as mais variadas espécies.
É sem dúvida cativante ouvir o Sr. Eugénio falar. Cada palavra que profere é dita com gosto. É uma verdadeira enciclopédia falante. Além do seu conhecimento, este faz com que as pessoas se sintam mesmo à vontade e parte integrante da quinta, sendo que todas as plantas e frutos que vamos encontrando pelo caminho fora vamos experimentando e cheirando.
Entre as várias plantações da Quinta do Agricultor encontramos cultivados tremoços, piripiris, pimentas da terra, nêveda, pera meloa, amendoins, capuchos, maracujás, maracujás bananas, bananas, canas de açúcar, camélias, morangos, milho, azáleas, girassóis, araçás, poejo e diversas aromáticas.
Nas várias explicações do Sr. Eugénio, existem alguns aspetos muito interessantes. A camélia é uma planta ornamental e também de chá. É uma planta que procura as alturas mais frias para florir.
O milho, que era a base alimentar dos animais, das pessoas e o facto de ser uma planta de sobrevivência. Como o Sr. Eugénio refere, é uma das plantas mais inteligentes do mundo, mesmo em condições adversas, o milho concentra toda a sua energia para a produção de grãos de milho, isto é, se uma planta de milho for grande e tiver pouco alimento, a mesma irá automaticamente reduzir o seu tamanho para concentrar a energia na germinação de grãos na maçaroca.
Antes de chegarmos à próxima etapa da visita, entramos dentro da plantação de bananas da quinta, onde somos convidados a saborear a banana dos Açores. Esta foi considerada a melhor banana do mundo devido ao facto de ser a menos calórica, a mais doce e a mais nutritiva. Também aqui aprendemos que a bananeira é uma planta de família, que cada bananeira leva 2 anos a dar fruto e que cada cacho de bananas produz em média 120 a 140 bananas.
Após saborearmos a banana dos Açores, é hora de uma experiência única, ordenhar uma vaca e beber o seu leite na hora. Mas uma experiência única nunca vem só. No meio da pastagem de ordenha, existe um baloiço gigante feito pelos proprietários. A baloiço está situado na zona mais alta da pastagem, mesmo antes da sua zona desnivelada, o que faz com que estejamos a grande altitude quando somos lançados. É uma dose de adrenalina que todos devem experimentar.
De seguida, depois desta injeção de adrenalina e dos frios na barriga, é hora de conhecer a Quinta. Redundância à parte, não é a quinta em si, mas sim a vaca de ordenha que se chama Quinta por ter nascido com 5 tetas, o que na verdade é um caso único, pois as vacas têm por norma 4 tetas.
O Sr. Eugénio, com a ajuda dos seus colaboradores, coloca um balde de ração para a vaca comer e começa a ordenhar. De seguida, os visitantes têm a oportunidade de ordenhar, ao mesmo tempo que enchem o leite num copo para prova posterior. O leite é ótimo e sai quente do corpo da vaca. É de facto uma experiência única.
Despida a farda de ordenhador, segue-se a visita aos restantes recantos da Quinta do Agricultor. No centro, existem vários animais, alguns dispostos em currais e outros de forma livre, entre os quais: galinhas, perus, ovelhas, coelhos, um cavalo, os cães da quinta (a lua e o saturno), patos, porcos e os bezerros.
Ainda no centro, poderá observar uma burra de milho. A burra de milho servia para colocar o milho que viria a ser o sustento de uma família durante um ano, era a medida certa para os 365 dias. Do lado esquerdo da burra, entramos num granel onde estão guardados alguns utensílios usados na atividade da quinta, os quais o Sr. Eugénio vai explicando a função.
Ao fim de observarmos todo o exterior da quinta, chega o momento de entrarmos na casa do agricultor, mas mesmo antes da entrada, o Sr. Eugénio profere umas sábias palavras que tanto caraterizam o ambiente sentido ao visitar a quinta: “Entrem como visitantes e saiam como nossos amigos”.
Ao entrar na casa podemos contemplar uma típica casa açoriana dos tempos outrora vividos. Sem eletricidade, sem água canalizada, com forno de lenha, cama de casal com colchão recheado de folha de milho, sótão para as crianças dormirem com colchão de chão (as chamadas camas de alastro), vários utensílios do quotidiano (sertãs, alguidares, potes para colocar as carnes em banha e sal para conservação, entre outros) e também várias imagens com santos, que tanto demonstram de forma nítida a devoção do povo dos Açores, sobretudo a veneração ao Senhor Santo Cristo dos Milagres.
Logo após o Sr. Eugénio e a Sra. Gorete terem explicado os modos de vida dos nossos antepassados e de terem mostrado a casa, bem como todos os seus utensílios e adornos, puseram-nos a mesa para podermos apreciar uma infusão de chá, feita com aromáticas da própria quinta, e biscoitos cozinhados no forno de lenha da casa da Quinta do Agricultor. Os adjetivos são vários, mas vamos deixar que experimente e retire as suas próprias conclusões, digamos só que vale a pena.
A Quinta do Agricultor tem para oferecer dois tipos de visita, a normal e a com degustação. Além das visitas, são promovidos vários eventos temáticos, como por exemplo a desfolhada, que tenta recriar o cenário da colheita do milho, e o dia da abóbora, que é muito interessante para os mais novos, visto que podem dirigir-se à quinta para escolher a sua abóbora e ainda participar num concurso de decoração da mesma.