O Natal está a chegar e os Açores estão repletos de atividades para o animar esta quadra. Está preparado para passar o Natal nos Açores? Decorações e luzes de natal, presépios, cultura, comidas típicas, o “menino mija” e muito mais! Aqui existe sempre algo a acontecer e ótimos motivos para passar esta época festiva nas ilhas. Fique connosco e conheça algumas das tradições de Natal dos Açores.
Inauguração das luzes e da decoração de Natal
Não é natal se não existirem luzes e decoração. Os concelhos e as freguesias do arquipélago dos Açores decoram as ruas e os locais mais comum com luzes e presépios, de forma a que as pessoas possam desfrutar desta altura do ano da melhor forma. Além da decoração, existem nestes dias de quadra natalícia inúmeros eventos de animação de rua.
O Dia das Montras assinala-se todos os anos a 8 de dezembro, dia em que se celebra no país a Imaculada Conceição. A celebração está toda ela envolvida com o comércio tradicional e já perdura há várias dezenas de anos. O comércio local decora as suas montras com os melhores adereços e produtos, com imagens alusivas a esta altura natalícia, aliciando desta forma os clientes para comprar as suas ofertas de Natal nestas lojas. Ainda, como forma de incentivar as lojas tradicionais, as câmaras municipais promovem um concurso de montras, o qual elege a monta mais bem decorada com um prémio.
Além disso, as ruas já iluminadas e ornamentadas com elementos natalícios enchem-se de uma repleta multidão, o que realmente transmite um verdadeiro sentimento de natal.
Criptoméria (criptomeria japonica), o pinheiro de Natal dos Açores
A Criptoméria (criptoméria japónica) é a espécie florestal mais importante dos Açores, tanto pela sua importância económica (ocupa cerca de 60% da área florestal) como pela sua importância estrutural naquilo que é a paisagem dos Açores.
Neste sentido, e pela sua elevada abundância, esta foi a espécie escolhida para ser a árvore de Natal dos açorianos.
Musgão como ornamento dos presépios de Natal
O musgo (turfeira género sphagnum) é habitualmente utilizado no presépio feito pelas gentes dos Açores, embora a sua apanha seja proibida. Estas plantas, também conhecidas por musgão ou leiva, apresenta caraterística biológicas de acumulação de água e ar. Basicamente esta espécie funciona como uma pequena esponja, muito leve quando seca, mas que pode suportar até cerca de 20 vezes o seu peso quando em água. Mundialmente, existem cerca 150 espécies de musgo e nos Açores estão presentes 16 delas.
Além disso, esta espécie tem um papel fundamental no controle da erosão do solo e na regularização do fluxo de nascentes e ribeiras.
Ir visitar os presépios
Uma tradição muito típica dos Açores é visitar os presépios espalhados pelas ilhas. Alguns dos mais afamados e visitados são o das Furnas, o da Casa do Arcano, o dos Manaias e o do Prior Evaristo Gouveia.
Presépio do Arcano
A Casa do Arcano foi considerado o primeiro tesouro regional do arquipélago dos Açores e constitui-se como um autêntico ícone da cultura açoriana. Esta casa é o testemunho da obra de Madre Margarida do Apocalipse, madre esta que dedicou 20 anos da sua vida a executar esta obra prima que é o Arcano. Os espaços da casa mantiveram-se inalterados, como é o caso da cozinha, os tetos, as alvenarias numa tentativa de demonstrar e conhecer uma a vida vivida numa cidade de outrora. Os vários quadros, dispostos nos 3 pisos da peça expositiva, são compostos por pequenas figuras, todas elas moldadas à mão e formadas pelos mais variados materiais, tais como: farinha de arroz, gelatina animal, goma-arábica e vidro moído. Segundo o que se diz, a autora realizou esta obra com o propósito de louvar a Deus, entreter e ensinar catequese. Este é realmente um gigante presépio de lapinha que pode e deve ser admirado por qualquer um.
Presépio Prior Evaristo Gouveia
Este presépio movimentado está instalado no Museu Municipal da Ribeira Grande e pode ser visitado na quadra natalícia, sendo que é uma das maiores atrações natalícias da ilha de São Miguel.
Desde 2008 que este presépio é classificado como bem de interesse municipal e consta-se que foi criado com o objetivo de ajudar a igreja e ocupar os tempos livres dos jovens que se reuniam na Associação da Juventude.
O presépio conta com cerca de 400 peças feitas dos mais variados materiais, sobretudo os recicláveis e os naturais.
Presépio das Furnas
O Vale das Furnas é anfitrião, ano após ano, de um dos maiores presépios ao ar livre da região dos Açores. Em sintonia com a natureza, o presépio é disposto ao longo da zona das Caldeiras das Furnas, disposição esta que conta com cerca de 5000 figuras. Este presépio costuma estar exposto a visitas desde o inicio de dezembro até ao dia de reis.
Presépio da Casa dos Manaias
O presépio da Casa dos Manaias é um projeto de inclusão social que tenta representar a fé, a sagrada família, e também a identidade das tradições do povo açoriano. Especial destaque há para os materiais utilizados na base da construção deste presépio, sendo este barro, materiais naturais, recicláveis e também simbólicos, visto que alguns antigos utentes executam algumas das peças com vista a serem colocados no presépio.
Com cerca de 400 peças construídas pelos utentes, desde 2015, este presépio é mais uma das muitas atrações desde ciclo natalício dos Açores.
Presépios de Lapinha
Os presépios de lapinha são autênticos presépios em miniatura e remontam ao século XVI. Surgiram pela primeira vez na ilha de São Miguel devido à fixação da Ordem dos Franciscanos. Desde então que fazem parte da identidade cultural do povo micaelense.
Nasce pela primeira vez da mão das freiras desses conventos religiosos da Ordem dos Franciscanos e estas decoravam os presépios literalmente com os elementos que “tinham à mão”. Pequenas conhas, flores artificiais, penas, escamas de peixe, musgo seco, papel, algodão e pequenas figuras de barro para representar a Sagrada Família.
A figura e o tema central dos presépios é, desde sempre, a Sagrada Família e o nascimento do Menino Jesus. Outros dos temas adicionais dos presépios são a representação da vida quotidiana, tais como as matanças do porco, as procissões e as romarias. A gruta abriga a Sagrada Família e em torno dela organizam-se todos os outros elementos.
Entre o dia 24 de dezembro e o dia 6 de janeiro (Dia de Reis) vários grupos de homens e mulheres andam de casa em casa visitando os seus familiares e amigos, visita esta marcada essencialmente pela de prova doces e licores tradicionais, da época e da região. As pessoas que esperam pelas visitas expõem na mesa de suas casas tudo o que de melhor têm para oferecer. Estes convidados, inesperados ou não, antes de entrarem na casa que vão visitar perguntam “o menino mija?”.
O Bolo de Natal dos Açores, também conhecido como “bolo de fruta”, é o doce rei das mesas de natal dos açorianos.
A receita deste bolo de natal varia um pouco consoante os costumes de cada uma das nove ilhas, mas o sabor é sempre uma autêntica delícia. O mais interessante é que este bolo tem de ser preparado com duas semanas de antecedência e guardado num embrulho de papel vegetal, em um local quente. Além disso, este bolo perdura muito tempo, por isso pode guardar no congelador e consumir mais tarde.
Fogo de Artifício e Bailes de Ano Novo no Coliseu Micaelense
Os concelhos dos Açores celebram da melhor forma o ano novo com grandes espetáculos de fogo de artificio. A baixa das cidades ilumina-se de cores que marcam a entrada, de preferência com o pé direito, num ano novo.
O Coliseu Micaelense organiza grandes bailes de réveillon. Os participantes primeiro vão à baixa de Ponta Delgada ver os rebentões de fogo de artificio e depois seguem para o coliseu onde festejam a entrada no ano novo pela noite dentro.
Outras tradições de Natal dos Açores
Estas tradições são comuns e similares de ilha para ilha, mudando apenas alguns detalhes.
Nos Açores em geral, nove dias antes do dia 25 de dezembro, começa-se a preparação espiritual para o Natal, através das novenas de menino Jesus. As novenas são orações feitas para preparar a vinda de Jesus. Ainda, entre o dia de Santa Bárbara (4 de dezembro) e o dia da Imaculada Conceição (8 de dezembro), ou ainda o dia de Santa Luzia (13 de dezembro), são colocadas em tigelas e em pratinhos ervilhaca, trigo, milho, tremoço ou alpista. Em combinação com laranjas e tangerinas, estes elementos serviam e servem para enfeitar o presépio ou até mesmo os alteres de menino Jesus. Na noite de Natal, há um ditado que diz que estes vasos plantados devem estar presentes na mesa da consoada para que nunca falte pão em casa.
As sementes dessas plantas devem ficar de molho pelo menos 24 horas antes de serem plantadas. Depois de estarem secas, são colocadas num vaso com terra (sem serem enterradas por completo).
São regadas uma vez por dia até começarem a crescer
Na ilha de Santa Maria é plantado trigo para se colocar à volta do menino Jesus. Na ilha Graciosa é colocado sobre uma mesa forrada de tecido branco uns degraus com a imagem do menino Jesus no seu topo.
Estes mesmos degraus são decorados com flores naturais, ervilhaca ou até mesmo citrinos. Na ilha de São Jorge, o dia da consoada revelava-se importante para as raparigas, pois ao contrário dos restantes dias do ano, estas tinham a liberdade para poder sair à noite, apenas até à hora da missa. Há um ditado que diz “Trindades batidas, meninas recolhidas”.
Depois da missa, comia-se o típico caldo de couves, peixe e pão com queijo.
Na ilha das Flores, comia-se galinha assada recheada com debulho e também eram servidos pratos de inhame com linguiça, prato este muito típico desta ilha.