A Praia da Vitória é uma cidade e um concelho da ilha Terceira, uma das cinco ilhas que dão forma ao grupo central do Arquipélago dos Açores. Segundo os Censos de 2011, apresenta 21 035 habitantes, de acordo com o gentílico, 21 mil praienses. A sua área é de 162,29 km2, área geograficamente ordenada por 11 freguesias. O concelho possui uma das maiores marinas dos Açores, a Marina da Praia da Vitória, inserida na baía da Praia da Vitória, baía esta que foi importantíssima para o que vamos referir a seguir. Mas este local nem sempre foi denominado desta forma – “Praia da Vitória” -, saiba aqui o porquê.
Gravura da Batalha da Praia da Vitória
Anteriormente, este local era denominado de vila da Praia, mas tudo iria mudar em 1829 com a guerra liberal.
Em 1828, D. Miguel (conhecido por “o Absolutista”) assumiu o poder, mas não respeitou durante o seu reinado as diretrizes impostas pela Carta Constitucional, pois esta limitava os poderes do rei. Assumiu-se assim como um rei absolutista, era esta que ficou marcada pela perseguição aos liberais. Muitos deles foram exilados. O regime absolutista ganhou força e foi apoiado em Portugal inteiro, com a exceção da ilha Terceira que se manteve fiel aos princípios liberais.
O capitão-general residente na ilha Terceira, Tovar de Albuquerque, era uma pessoa com tendências absolutistas, e levou de ânimo leve o que se passara em território continental.
As atitudes de D. Miguel suscitaram reações em território continental, devido ao descontentamento da população em relação ao seu autoritarismo. Este descontentamento fez-se sentir sobretudo com os liberais do Porto e na própria ilha Terceira.
Estes acontecimentos desencadearam a revolta do 5º Batalhão de Caçadores, que levou à destituição de Tovar de Albuquerque. Destaque para a importância da Fortaleza de São João Baptista que serviu de pilar na defesa do regime liberal. Porém, a revolta do Porto iria fracassar e D. Miguel iria enviar um novo capitão-general para a ilha Terceira, Sousa Prego de seu nome. Este foi impedido de desembarcar e de assumir o seu cargo, tendo mesmo acabado por o fazer na ilha de São Miguel.
A população da ilha Terceira fiel ao absolutismo, ainda tentou uma rebelião contra os liberais, mas sem sucesso. O partido liberal estava exilado na Europa, porém viu esta situação da ilha Terceira como uma maneira de elevar a sua resistência e afirmar os seus ideais.
A ilha Terceira afirmou-se então como o baluarte do liberalismo na Europa, ainda para mais num país totalmente miguelista. Em 1829, Palmela, um dos chefes liberais, iria nomear Vila Flor como capitão-general dos Açores, com sede em Angra do Heroísmo. Miguel indignado com estas contestações ao seu regime, ainda tentou um último embate para submeter a ilha Terceira ao seu poder e ideais. Era o único local no país que o desafiara. Enviou uma poderosa frota de 21 navios em direção à baía da Vila da Praia, na ilha Terceira, que viria a desembarcar a 11 de agosto de 1829. Ao comando de do almirante José da Rosa Coelho, estavam 3000 homens artilhados com cerca de 370 canhões.
Em terra, os liberais defendiam a costa numa extensão de 5 quilómetros com a ajuda dos seus fortes com o intuito de inviabilizar o desembarque dos miguelistas. O vento oeste ia levando os barcos para leste, e ambas as tentativas de desembarque foram falhadas e os liberais foram levando a sua avante. Ao fim do dia, os miguelistas reconheceram o fracasso da sua investida, muito devido ao erro estratégico dos seus comandantes. Este episódio foi de extrema importância para a causa liberal, que conseguiu o seu primeiro grande triunfo. Este acontecimento levou a que a Vila da Praia se passasse a denominar de Praia da Vitória.
A partir desse dia, estavam criadas as condições perfeitas para que os liberais pudessem combater o absolutismo de D. Miguel, facto este que se veio a constatar na guerra civil entre 1832 e 1834.