O vinho teve, e ainda tem, um papel importante na economia e na história do arquipélago dos Açores. Na era primitiva da vivência nas ilhas açorianas, a produção de bens era, por norma, feita para garantir a subsistência do povo em geral. Esse era o conceito fundamental da economia dos açorianos de outrora.
Cada ilha tinha as suas particularidades no que toca à produção de bens, mas todas tinham um objetivo que lhes era comum – o autoabastecimento assegurado, em todo o arquipélago, fruto das várias produções/cultivos. No caso da ilha do Pico, a sua abundância de rocha basáltica deu lugar, desde cedo, ao cultivo da videira. Esse fenómeno deu origem à produção de grandes quantidades de vinho, o que excedeu as necessidades de consumo local abrindo, assim, portas à exportação do vinho para o mundo.
É importante destacar, que este fenómeno do vinho açoriano, também se fez sentir na ilha de São Jorge, na ilha do Faial, na ilha Graciosa e na ilha Terceira. Todas elas também tiveram, e têm, plantações e produções de vinho, mas a ilha que mais expressão tem neste setor, é a ilha do Pico.
Em terras montanhosas, o vinho é produzido em currais de pedra, o que se traduz numa bela paisagem vitivinícola que não é indiferente a ninguém. É considerada património mundial, pela UNESCO, desde 2004.
Estes currais servem de abrigo aos ventos, e são muito parecidos a labirintos. Note que, todos estes trabalhos nas vinhas, desde a plantação, recolha, construção dos currais, entre outros processos, é feito à mão.
Paisagem da Cultura da Vinha, Fotografia de João Santos
Curiosidade: Os murros de pedra das vinhas da ilha do Pico são tantos, mas tantos, que todos eles unidos são capazes de dar a volta ao Equador duas vezes. Constituem cerca de 80.000 km.
Com o desenvolvimento da produção vitícola, também surgiu o fabrico de aguardente, como produção suplente, caso os vinhos se danificassem na viagem marítima a que eram sujeitos. A aguardente tinha uma maior capacidade de resistência perante esse transporte marítimo necessário para a exportação dos produtos. Estas trocas comerciais abriram o arquipélago dos Açores ao Brasil, à América e à Inglaterra – sobretudo à comunidade de ingleses que habitavam na América do Norte.
Este exponente fenómeno do vinho deu-se muito, também, devido ao papel vital da Horta, que funcionou como uma rampa de lançamento dos Açores para o mundo. O vinho e a aguardente do Pico, através da Horta e da sua qualidade por si só, foram e são hoje internacionalmente reconhecidos.
Ao virar do séc. XVIII, o vinho deixará de ser apenas um bem de consumo de subsistência, tendo vindo a tornar-se uma mercadoria de grande importância económica. Como Gaspar Frutuoso disse e bem “dão bom vinho”. É importante referir que o vinho ganha a sua excelência devido ao microclima e solo da ilha. O basalto, fruto da lava, revela ter uma grande capacidade de produzir vinho.
Porém, a difusão da praga denominada de filoxera, teve efeitos catastróficos nas vinhas, levando à sua decadência. Essa decadência veio também afetar a Horta, que dependia do vinho para efetuar as trocas comerciais. Este acontecimento só ajuda a provar a crise económica que foi sentida nessa época, devido à degradação das vinhas. É neste ambiente, que se descobriu a caça à baleia como uma ferramenta económica muito importante, complementando assim o que foi perdido com as vinhas.
Nos dias de hoje, a recuperação das vinhas Pico é uma realidade, e a qualidade do vinho e a produção tiveram um grande aumento. Podemos afirmar que o vinho já corre no panorama internacional e constitui-se como uma grande tradição e mais valia para o arquipélago dos Açores. O reconhecimento das vinhas do Pico, como Paisagem Protegida de Interesse Regional da Cultura da Vinha, em 2004 pela UNESCO, tendo um estatuto de Património Mundial da Humanidade, como foi mais acima referido, veio impulsionar a vitivinicultura e colmatar ainda mais as perdas originadas pela doença.
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