Dado que é possível avistar o cachalote durante todo o ano nos Açores, este tornou-se rapidamente um dos animais mais emblemáticos do arquipélago. Não é por coincidência que este mamífero possui o maior cérebro entre todas as espécies vivas conhecidas na Terra.
Descrição
O cachalote (Physeter macrocephalus) é, desde já, caracterizado pelo tamanho e forma distinta que possui a sua cabeça, que chega a corresponder a cerca de 1/3 do seu comprimento total e 35% da superfície do seu corpo. Ao contrário de algumas outras espécies de cetáceos conhecidas, o cachalote diferencia-se por possuir dentes, ao invés das chamadas “barbas” verificadas, por exemplo, na Baleia Azul.
O espiráculo do cachalote encontra-se perto da zona frontal da sua cabeça, permitindo-lhe emergir pouco à superfície.
A sua dentificação suscita alguma curiosidade, pois não sabe ao certo o porquê da sua existência. Isto porque o conteúdo do estômago do cachalote mostra presas inteiras, implicando assim pouca importância na existência de dentes nesta espécie. No entanto, nas cabeças dos machos, são frequentemente verificadas cicatrizes e marcas causadas por dentes de outros machos.
Tipicamente o cachalote macho atinge os 18 metros de comprimento e a fêmea atinge os 12 metros. O peso do cachalote macho pode atingir os 68 000 kg e a fêmea atinge apenas os 20 000 kg.
A disparidade de tamanho e peso entre macho e fêmea cachalote deve-se à sua dismorfia sexual. Isto é, a ocorrência de características físicas diferentes entre indivíduos do sexo masculino e feminino. Este fenómeno é verificável (ou não) em todo o reino animal, como por exemplo a juba de um leão e a ausência da mesma nas leoas. Assim, o cachalote é um dos cetáceos mais sexualmente dimórficos.
Outro fator que caracteriza o cachalote é o espermacete, uma substância cerosa de cor esbranquiçada, tipicamente usada na produção de velas que não libertam fumo ou odor, lubrificante para instrumentos delicados de elevada altitude e diversos outros usos importantes, daí a sua caça agressiva até finais de século XX.
Comportamento
O cachalote é o mamífero capaz de mergulhar a uma maior profundidade. Acredita-se que sejam capazes da atingir profundidades de 3 000 metros.
A sua dieta consiste de uma grande variedade de animais marinhos, com especial preferência por lula-gigante. Grande parte do conhecimento de lulas de grande profundidade foi obtido ao examinar estômagos de cachalotes. Este mamífero chega a consumir cerca de 140 quilos de polvo e lula por dia.
O cachalote é um animal muito social e tende a formar grupos, sendo estes compostos por fêmeas adultas e crias. Os jovens machos formam grupos com outros cachalotes machos, acabando, mais tarde, por os abandonar em busca de fêmeas.
Devido ao seu comportamento, a monitorização do cachalote é extremamente difícil, resultando em estimativas pouco precisas em relação aos números que compõem esta espécie.
Apesar de ter sido foco contínuo de caça humana durante vários anos, o seu estado de conservação encontra-se melhor do que muitas outras espécies de baleias. No entanto, a influência humana continua a constituir uma ameaça para a conservação desta espécie, sendo a poluição um problema especialmente grave, não só de resíduos, mas também poluição sonora. Isto porque o cachalote depende bastante do som para encontrar grupos sociais e parceiros.
Enquanto que o cachalote macho não possui predadores naturais, a cachalote fêmea e as suas crias são vulneráveis a ataques de orcas.
Apesar de mergulharem habitualmente a distâncias muito profundas durante bastante tempo, a sua observação está a tornar-se cada vez mais popular, sendo uma atividade muito requisitada nos Açores. O cachalote pode ser observado em qualquer altura do ano, em qualquer estação.
Curiosidades
O icónico romance do século XVII, Moby Dick, é intitulado com o nome de uma “personagem” do livro, um cachalote gigantesco de cor branca chamado “Moby Dick”.
O som que o cachalote emite é tão alto que consegue atordoar as suas presas e é até capaz de matar um ser humano. Apesar desta extrema força, os cachalotes não atacam humanos. Estes mamíferos são muito dóceis, amigáveis e curiosos.
Durante o desenvolvimento do seu documentário “Click Effect”, o jornalista James Nestor participou em diversas excursões, onde pôde interagir com o animal e, durante uma apresentação numa convenção da The Interval com o tema “Humanity and the Deep Ocean”, Nestor recordou um momento em que um dos nadadores estendeu um braço para evitar colidir com um cachalote e a sua mão ficou paralisada durante 4 horas após o encontro, devido ao som emitido. O autor afirma que o cachalote é muito curioso e acolhedor de humanos durante mergulho livre.
Os cachalotes transportam as suas crias doentes até à superfície na boca. Assim, surgiram diversas estórias em que cachalotes salvam a vida a humanos naufragados, trazendo-os à superfície. Casos de tais ocorrências são pouco documentados e não confirmados. No entanto, deixamos a veracidade destas ao critério da sua imaginação.