Continuando o nosso percurso gastronómico pelas ilhas dos Açores, entremos agora pela gastronomia micaelense, onde irá reconhecer, decerto, algumas destas iguarias. Por ser a maior e mais populosa ilha do arquipélago, São Miguel possui algumas peculiaridades nos seus pratos, que iremos verificar de seguida:
Cozido das Furnas
Comecemos, então, por um clássico: O Cozido das Furnas. Este é, talvez, o prato mais afamado dos Açores. Isto deve-se, maioritariamente, à forma curiosa como é tradicionalmente preparado.
Acontece que, ao invés de um prato comum, em que é usado lume (tipicamente de fogão, lareira, etc.), o Cozido das Furnas é cozinhado usando apenas o calor da terra, mais especificamente nas fumarolas das Caldeiras das Furnas. Estas são manifestações vulcânicas secundárias, do vulcão que aqui reside, adormecido desde 1630.
Ver o retirar do cozido faz tanto parte da experiência como degustar a própria iguaria, sendo que este é “enterrado”, deixado a cozer durante cerca de 6h e é, mais tarde, retirado.
Apesar de existirem buracos reservados para restaurantes, o Cozido das Furnas pode ser feito por qualquer um, mediante reserva prévia.
Se preferir pular o passo da confeção do cozido e passar logo à degustação, pode visitar um dos restaurantes locais, sendo que este é um prato muito popular nas Furnas.
Bife à Regional
Se tiver preferência por bifes, então terá também à sua escolha o afamado Bife à Regional, um prato típico, muito procurado pelos locais e presente em muitos restaurantes da ilha.
Para a confeção deste bife usa-se tipicamente um dos melhores cortes de carne da vaca, o lombo, acompanhado sempre de Pimenta da Terra (um ingrediente regional), o seu típico molho (com base em vinho branco, cerveja ou whisky), um ovo a cavalo e batatas fritas.
Ananás
Talvez um dos artigos menos esperados de se ver numa lista de produtos típicos de gastronomia açoriana, o ananás é, de facto, um elemento que rapidamente se tornou emblemático dos Açores. Apesar de ser recente na ementa micaelense, a introdução do ananás torna-se lógica, quando se considera o seu contexto histórico.
Acontece que, por volta de 1830, a plantação da laranja era um dos motores de exportação da Região. No entanto, a sua produção foi gravemente afetada por uma doença denominada gomose, levando à sua decadência acentuada.
Como tudo indica que o ananás tenha sido descoberto pelos portugueses na altura da colonização do Brasil, este passou a ser o fruto plantado como alternativa à laranja.
Atualmente, o ananás é uma iguaria icónica dos Açores e São Miguel e é um fruto tanto benéfico para a saúde, como delicioso. Para além de conter propriedades anticancerígenas, os ananás é ainda rico em vitamina C, B6, A, Co, Zn, Mg e Ácido Fólico.
Apelidadas assim por serem provenientes de Vila Franca do Campo, estas queijadas são um dos doces mais típicos da ilha.
Curiosamente as Queijadas da Vila têm origem num convento, mais especificamente o Convento de Santo André, em Vila Franca do Campo. A receita foi criada pelas freiras que lá residiam e hoje em dia é considerada uma relíquia da doçaria conventual dos Açores. Os ingredientes originais usados pelas freiras eram: leite, gemas de ovos e açúcar, sendo este o responsável pela textura e sabor inconfundível das queijadas.
Hoje em dia, com uma visita à fábrica das Queijadas da Vila do Morgado, é possível observar o processo de confeção das queijadas.
Chá
O chá na ilha de São Miguel representa uma enorme importância, pois é aqui que se localiza a fábrica de chá mais antiga da Europa. Estamos, claro, a falar da Gorreana, que mantém a sua plantação e produção de chá há quase 140 anos, tendo esta perdurado durante 5 gerações familiares.
Acredita-se que o chá tenha benefícios em vários campos da saúde, ajudando na perda de peso e na luta contra o cancro, bem como promovendo um melhor funcionamento cognitivo e cardíaco. As suas propriedades antioxidantes hidratam a pele e reduzem os efeitos de idade, fortalecendo, também, o sistema imunológico ao diminuir a propensão do organismo a inflamações.
Licores
Se preferir um digestivo um pouco mais forte, prove os famosos licores micaelenses, mais especificamente da Fábrica de Licores Mulher de Capote. Os aromas e sabores destes são tipicamente baseados em frutos populares da ilha, como o maracujá e o ananás, e são uma parte emblemática da gastronomia micaelense.